quarta-feira, 4 de julho de 2012

Artigo de Angela Maria La Sala Batà - "Maturidade Psicológica"



Excelente reflexão! 

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"Maturidade Psicológica" por Angela Maria La Sala Batà

"... em tom sarcástico, perguntou o jovem: "Há um Deus?" "Sim, meu filho", respondeu Ramakrishna, colocando seus dedos sobre o Coração do jovem; e, com isto, desapareceu o jovem céptico Narendra e nasceu Vivekananda, o sacerdote e profeta da humanidade. O tumulto de seu coração se havia acalmado, pois nascera a certeza que lhe permitiu declarar mais tarde, no Congresso das Religiões: "Eu vi Deus, conheci a Verdade".

AS CRISES DE MATURAÇÃO

A verdadeira maturidade é a capacidade de saber exprimir as qualidades mais nobres, mais elevadas, mais reais de nós mesmos: o EU ESPIRITUAL.

Amadurecer significa, portanto, "auto-realizar-se", e é esta a meta á qual tende o impulso de progredir, de evoluir, de crescer, ínsito em cada homem. 

Entretanto, o caminho para essa meta é lento e gradual, e não é livre de dificuldades, de lutas e de conflitos, porque o homem, no início, não é consciente desse impulso a progredir; está imerso na ignorância e na inconsciência, e sem saber opõe-se ao impulso ascensional. 

Talvez esta seja a razão pela qual todo crescimento, toda maturação, é precedida de uma crise. Isto é uma lei que age não só em campo biológico, mas também no sentido psicológico e no espiritual. Podemos, pois, afirmar que o homem progride através de sucessivos momentos de crise. É, pois, da máxima utilidade analisar o verdadeiro significado do termo "crise", e depois refletir e meditar sobre eventuais crises de nossa vida, para obter ensinamentos e para transformá-las em instrumentos de evolução. 

A palavra crise vem do grego "crino", que significa "separar", "distinguir", "dividir". Portanto, essa palavra quer dizer: ponto de separação, de divisão, ponto de volta. No dicionário Webster a palavra "crise" é assim definida: "... é um ponto de volta, um estado de coisas no qual uma decisiva modificação, em um sentido ou em outro, está próxima".

A crise é a manifestação mais ou menos intensa de um conflito interno entre duas tendências: a do passado e a do futuro. É o apresentar-se de algo novo, de uma ocasião de progresso, de maturação, que não queremos reconhecer de imediato. Isto acontece porque no homem existem duas tendências opostas: uma à adaptação, ao equilíbrio, e outra à evolução, ao progresso.

Todo impulso à maturação e ao crescimento vem disturbar um ponto de equilíbrio, talvez conseguido com, esforço, e cria conflito entre a força evolutiva e a tendência à estabilização. Portanto, a crise é, em primeiro lugar, uma tensão entre uma força estática e uma dinâmica: uma luta que inclui necessária// um destaque, uma escolha, uma superação, e, final//, um reconhecimento de qq coisa de novo, de diverso, de mais amplo. Recordemos que a maturação interior é um verdadeiro "crescimento" subjetivo, é o desenvolvimento gradual da consciência. Tal crescimento acontece independente// do progredir biológico do indivíduo, que é temporal. Mas esse progresso biológico tb tem suas crises, que são de ordem geral. Existem, por exemplo, a crise da adolescência, a crise da maturidade, a crise da velhice, etc., que podem acarretar mal estar e perturbações não só fisiológicas, mas tb psíquicas. 

As crises de desenvolvimento interior, porém, são bem mais importantes e significativas, e têm um caráter individual, trazendo consigo uma particular problemática que é diferente em cada indivíduo. Todavia pode-se encontrar pontos comuns em todas as crises de maturação, e esses são:

1. Todas as crises indicam uma oportunidade de desenvolvimento e de expansão.
2. As crises podem ser conscientes, ou sub conscientes.
3. Mesmo as conscientes podem ser precedidas por um período de latência. 

O desenvolver-se de uma crise em nível inconsciente é muito mais freqüente do que se possa crer. Em nível consciente o indivíduo só percebe um certo mal estar, insatisfação, aridez, que pode ser mais ou menos intensa, segundo a importância e a gravidade das superações e das escolhas implícitas na crise de maturação. É muito importante perceber isso, porque podemos deixar passar inobservada 1 oportunidade de progresso, não dando importância aos nossos eventuais estados de depressão e de perturbação, aos quais não sabemos atribuir uma causa. Pode mesmo acontecer que o impulso evolutivo, não reconhecido nem ajudado, se retraia, e que o homem recaia em seu estado de inércia. Depois será necessário esperar muito tempo antes que se reapresente um outro impulso. Mas quando o impulso a crescer é forte, ele não pode ser ignorado e não nos dá Paz, até q o escutemos. 

Uma das crises mais típicas do desenvolvimento interior, e uma das mais decisivas da vida humana, porque assinala o início da ascese consciente, é a crise da passagem do nível de homem "comum", no nível de homem de ideais, isto é, no nível do homem que procura a Verdade e que quer progredir.  Esta crise, de forma mais ou menos intensa, apresenta-se a todos os indivíduos de média evolução, especial// na altura da metade da vida, quando o desenvolvimento biológico e psíquico da personali/ está completo, e o homem encontra-se em um "ponto morto".

Jung soube reconhecer, estudando os problemas e os conflitos de muitos dos seus pacientes de idade madura, os exatos sintomas desta crise, que se manifestam principal// através de um senso de vazio e inutilidade, de depressão e às vezes de angústia, e, sobretudo c/ um senso agudo de insatisfação e aridez, como se nada mais houvesse no que esperar, nada mais para o qual tender, nada mais a fazer na vida. Esse penosíssimo estado pode ser superado somente se se compreende o seu significado escondido, e se se sabe captar a indicação selada atrás dos sintomas de sofrimento.

O homem maduro deveria compreender que chegou o momento de sair da mediocridade, da cômoda "rotina" da vida comum, dos interesses usuais e limitados, e que deveria começar a tomar consciência de outros valores, de outros significados e de outros escopos da Vida, além daqueles que interessam a maior parte dos homens. 

Mas são bem poucos os que sabem afirmar a ocasião de progresso oferecida pela crise, e que sabem extrair o real benefício evolutivo, porque são poucos aqueles que sabem compreender que, justa// qdo se chegou à maturidade do ponto de vista fisiológico, alguma coisa começa a emergir do profundo de nós mesmos, premendo por manifestar-se. Algo de mais profundo, de mais Verdadeiro, de mais autêntico, que ainda não tem fisionomia bem precisa, masque "exige" ser reconhecido. É o primeiro vislumbre do SER que aparece, é a VOZ sem som do EU ESPIRITUAL, é uma oportunidade na direção da auto-realização que se apresenta a todos os homens, a um certo ponto da vida, mas que nem todos sabem reconhecer. 

Crises de desenvolvimento podem esconder-se até sob os sintomas das chamadas "nevroses", que na realidade nada mais são que conflitos em nível inconsciente entre tendências opostas. As nevroses vistas sob esse aspecto,não são algo completamente negativo, mas o sintoma de certo dinamismo subjetivo, do rebolir de energias que ainda não sabemos compreender nem canalizar, mas que poderão levar a impensados desenvolvimentos da consciência, uma vez que fossem resolvidos. 

Eis porque devemos estar vigilantes e atentos para não nos deixar fugir o significado escondido dos nossos eventuais períodos de depressão e de perturbação, que se apresentam sem uma causa aparente. Em outras palavras, não devemos deixar fugir as crises, mas, sim, ir ao seu encontro com coragem, e segurança, sabendo que elas demonstram que não estamos estagnados, mas que estamos progredindo, que estamos amadurecendo em um ou outro aspecto da nossa natureza. De fato, existem crises que dizem respeito à maturação de uma ou de outra função da personali/. As crises de natureza emotiva denotam que devemos, ou melhor, deveremos fazer ampliações do lado afetivo, superar algum apego excessivo, libertar-nos de alguma ilusão, passar do amor egoísta e possessivo ao amor altruísta e generoso, que carateriza a maturidade afetiva. 

Não se consegue tal maturidade sem sofrimento, sem renúncia e sem superações; eis porque surge uma crise (isto é, um conflito) que se pode arrastar por um período muito longo, antes que ela seja resolvida. 

Por outro lado, quando as crises são de caráter mental, significam que devemos realizar alguma ampliação intelectual, ou liberar-nos da nossa mente, de preconceitos, cristalizações, rigidez, idéias estreitas e limitadas. As crises mentais às vezes são muito difíceis de resolver, porque as convicções, as teorias que alcançamos, representam para nós algo que conseguimos após muito esforço e muita procura, e é doloroso para nós ter de abandoná-las, e admitir que são limitadas, ilusórias e inclusive erradas. Todavia, mesmo as mais firmes convicções, as teorias mais amadas, têm que antes ou depois ser amadurecidas e modificadas, porque ser maduro mental// significa ser aberto, estar sempre em movimento na direção de novos conhecimentos, significa evitar as cristalizações e a rigidez, que impedem a Luz da Verdade de penetrar na nossa mente. 

As crises mentais podem acarretar para o homem muito sofrimento, porque muitas vezes a ampliação é necessária// precedida de destruição, mas tal crise deve ser enfrentada se queremos progredir. Mas o saber que o caminho para a maturidade é disseminado de conflitos e crises não nos deve espantar, porque nem sempre a crise é acompanhada pelo sofrimento, mas pode desenvolver-se de maneira serena e calma, principal// se o indivíduo que a atravessa está consciente do que nele se passa. 

Cada um de nós poderia tornar menos penosas as crises de maturação, se soubéssemos enfrentá-las com conhecimento e sabedoria, sem opor resistência à força evolutiva, sem se tornar rígido, mas pelo contrário, abrindo-se às novas possibilidades, e desligando-se do passado com serenidade. 
Devemos sempre lembrar que a crise é um fato benéfico, é um ponto de volta, um crescimento interior. Sofre aquele que se opõe à força do progresso, consciente// ou não, que tem algum problema não resolvido que o mantém, imobilizado em alguma situação psicológica do passado. Deve-se, entretanto, saber que os problemas interiores não se resolvem, mas se superam, e que não é com a luta que se gera o processo libertador. 

Diz Mestre Eckart: "É preciso ser capaz de deixar a alma agir"; isto é, ser capaz de não interferir na crise com a vontade, com o nosso pensamento, mas abandonar-se às forças superiores, em uma atitude de aceitação e confiança. 

"A Luz gira por lei própria, se não interrompermos seu estado habitual", diz Lao-Tsé com sabedoria oriental, indicando-nos a verdadeira técnica para favorecer a resolução positiva de uma crise. 

De fato, não podemos interferir quando está em andamento a luta entre 2tendências opostas, não podemos evitar o período de necessário trabalho e conflito. Isso é necessário, porque é do atrito de duas forças q emerge a consciência, mas podemos ajudar o impulso na direção da maturação colocando-nos em uma atitude interior de abertura e de calma. Essa atitude, que aparente// é passiva e inerte, provoca, ao contrário, sem que nos percebamos, uma elevação da consciência e, portanto, favorece a penetração da força evolutiva. 


As crises são, pois, benéficas, e indicam que dentro de nós estão acontecendo maturações e progressos. Elas são sintomas de "um mal decrescimento" (como diz Teillard de Chardin), através do qual exprime-se em nós, como na angústia de um parto, a lei misteriosa que, da mais humilde química a mais alta síntese do Espírito, faz com que cada progresso em direção de uma maior Unidade se traduza e se transmita cada vez em termos de trabalho e de esforço. 
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Recebi este texto por e-mail. Fui pesquisar e verifiquei tratar-se de um trecho do livro de mesmo nome "MATURIDADE PSICOLÓGICA" de autoria de Ângela Maria La Sala Batà.

Onde pode ser comprado:
Editora Pensamento /Estante Virtual /Mercado Livre



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